Te Ver

Ao cupido não dou trégua
Basta te ver que o obrigo
A atirar-me uma flecha.


E eis a situação ilógica.
Se é normal quem ama
À primeira vista,
Eu, caso raro,
amo sempre na próxima.

Qual sua prisão?

A algema que aperta os pulsos.
A corrente que amarra os passos.
A gaiola que proíbe o voo.
A grade que impede a ida.

A mordaça que nos deixa mudos.
A âncora que segura o barco.
O portão que trancafia os loucos.
O vício que multiplica a dívida.

O tijolo que levanta muros.
A miopia que estreita o largo.
O cofre que esconde o tesouro.
O laço que nos une a vida.

Qual sua prisão?



Teu Tudo

Tudo que absorvo
Que ressoa
                [no absurdo
Ecoa em meu entorno
Navega torto
                [no meu pulso


Tudo que resolvo
Que o esforço
                [torna impuro
Vem do escuro que me envolvo
E do estorvo
                [a que me curvo


Tudo que escondo
Atrás de um escombro
                [atrás de um muro
Não encontra contra-ponto
E eu me assombro
                [com teu tudo

Dúvidas

Até onde a loucura
pode chegar?
Até onde eu ainda
posso esquecer?
Até onde o tempo passa,
até parar?
Até onde o corpo aguenta,
sem perecer?

Até onde chega a voz do coração?
Até onde o amor alenta?

Até onde o momento
pode pausar?
Até onde a sentença
pode punir?
Até onde o pensamento
pode alcançar?
Até onde a dor aumenta
sem atingir...

onde esconde o que foge ao coração?
Até onde o amor é a essência?

Qual tua missão?


A vida é curta, caro amigo,
E se esvai pelos dedos
Como areia do deserto.

O Sol que agora exala brilho
Pode simplesmente ficar negro,
O sangue quente ficar gélido.

E o que era tão seguro fica incerto!

A vida é dura caro amigo
Nunca satisfaz a contento 
- profissão, dinheiro, sexo.

E quando os carros saem do trilho
Sem ter freio que dê jeito,
A vida passa num reflexo.

E só nessa hora você se vê desperto. 


[EPÍLOGO]


Qual tua missão?
O que no mundo te importa?
O que te faz feliz?
Então levanta agora
E escancara as portas
Que tu tens que abrir.

Eu Que Sei

Mundo gira, tempo passa, vida dá voltas
E toda mágoa que se passa à frente
um dia retorna.

Se invade a mente e n'alma toca.
Se a dor que sentes já não suportas.

Apenas saiba
Que nem toda lágrima
Representa derrota.

Eu que sei.
Eu que tanto já apanhei.
Eu que já bati também.
Já conheço bem.
Já conheço bem a dor.

Manhã - Tarde - Noite

A MANHÃ

Raios de luz que surgem ao horizonte.

Luz que, em raios, atravessa a janela.

Sol que desperta, tal qual uma fonte

Jorrando a vida

[que a faz ser mais bela.

A TARDE

Em tudo na vida existe uma metade

E algo no meio que define a divisa.

Entre a manhã e a noite existe a tarde,

Como entre a bonança e a tempestade

[existe a brisa.

A NOITE

A noite às vezes atrai pro que ela revela.

A noite às vezes conquista pro que ela oculta.

Cativa e envolve quem completa nela

A entrega inteira

[de viver sem culpa.

Além dos 30

Balzac repousa
na falta de espaço
de um coração suprimido.
É quando os sonhos
já não cabem no futuro
E se limitam a projetar
apenas
o que poderia ter sido.

De poesia à letra

No post anterior coloquei a última poesia que escrevi. E, como fiz com muitas outras antes dessa, resolvi musicá-la. O problema é que transformar um poema em letra de música exige uma adequação do texto à métrica, à melodia e ao ritmo. Ou seja, invariavelmente é preciso mudar algumas partes. Foi o que tive que fazer nesse caso. O resultado, apesar de manter a mesma essência da original, foi uma peça bem distinta, por isso posto-a aqui.

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Sempre Vale a Experiência

E daí que uma hora ela muda?
E daí que um dia ela acaba?
Seja ela feita de doçura,
Seja ela azeda ou amarga.

Se, voraz, ela for muita.
Se, fugaz, ela for nada

Sempre vale a experiência.
Que no coração deságua.

E daí que ela seja bruta?
E daí que ela seja calma?
Que me atinja o peito bem aguda.
Que só raspe e passe assim bem rasa.

Se incapaz de seguir junta.
Se jamais for separada.

Sempre vale a experiência.
Que no coração dispara.

E daí que ela seja curta?
E daí que ela se vá cedo?
Que ela me conforte com ternura
Que ela me sufoque em desespero.

Se, sagaz, me der uma fuga.
Se, mordaz, me deixar preso.

Sempre vale a experiência.
Que deixa o coração aceso.

Sempre vale a experiência.

E daí que uma hora muda?
E daí que um dia acaba?
Se, fugaz, ela for breve,
Ou bem longa, que assim seja.
Doce ou feita de amargura.
O que importa é que me marque.
Que me marque sendo intensa.
Pois sempre vale a experiência
Que no coração deságua.

E daí que seja bruta?
E daí que seja calma?
Se incapaz de seguir junta
Ou jamais for separada,
Há de, sim, me deixar marca.
E o que importa é que me marque.
Que me marque sendo intensa
Pois sempre vale a experiência
Que no coração afunda.

E daí que seja curta?
E daí que seja cedo?
Se, voraz, ela for muita
Ou bem pouca, que assim seja.
Me liberte ou deixe preso.
O que importa é que me marque
Que me marque sendo intensa.
Pois sempre vale a experiência
Que deixa o coração aceso.

A Majestade e a Suprema Seboseira

Quem navega em internet sabe. Existe por aí uma infinidade de listas do tipo “coisas que eu odeio”. Confesso que acho uma idiotice. O problema é que eu sou o Rei dos Idiotas, e se não fiz uma lista assim até hoje é porque existe outro reino em que sou ainda mais soberano: o da preguiça.

De qualquer forma, já tenho em mente um forte candidato ao topo da minha lista de “coisas que eu odeio”.

Repara só!

Sabe frango? Seja cozido, assado, ensopado ou qualquer outro? Pois é, eu adoro. O que odeio mesmo são as pessoas que os comem com a mão. Quer dizer, nenhum problema comerem com as mãos, contanto que sejam as deles e, é claro, as mantenham longe de mim. O que complica é que esse povo pega o frango com a mão e depois passa a mesma, toda oleosa, em tudo que é lugar. No saleiro, na jarra de suco, na concha do feijão... daí você, que come civilizadamente com o talher, acaba também melando a mão de óleo ao pegar nesses objetos.

Outro dia, por exemplo, eu fui tarde da noite na cozinha pegar um copinho de coca-cola. Tirei a pet da geladeira e quando toquei na tampinha, voilá, toda oleosa do frango que meu irmão comera no almoço. Asco total. Textura sebosa e cheiro enjoento. Na mesma hora peguei um pano de prato para me limpar e terminar de abrir a tampinha. Assim foi, coloquei o refri no copo e fui fechar a garrafa. O pano estava todo dobrado, o que complicou a “pegada” na tampinha melecada. Comecei a tentar rosqueá-la com todo cuidado, sentindo-a escapando e preocupado em não me deixar melar com aquele óleo nojento outra vez. Daí, nessa situação patética e ridícula, aconteceu: tampinha bambeia, tampinha bambeia, tampinha escapole e... PLOFT. Dentro do copo que eu acabara de encher.

É dose.

Mas é com essa curta e singela historinha que eu termino por provar duas afirmações feitas antes. A primeira é que mãos e objetos besuntados de óleo de frango são uma das coisas mais odiáveis que existe. Já a segunda é que a Coroa do Reino dos Idiotas está muito bem entregue.

Por Ela

De que vale a vida assim sem nada.
Sem um choro, um riso, um amor.
Sem ter dor, sem ter mágoa.
Sentimento seja qual for.
De que vale uma vida apagada.
Sem um canto ou alguém pra rever.
Sem saudades, sem ter marcas.
Más ou boas: isso é viver.

Sol nascendo na minha alma.
Sorriso dela para mim.
Por ela descem minhas lágrimas.
Por ela eu sorrio assim.

Não se apagam, não se cansam ou envelhecem,
As lembranças tantas em mim.
O que se guarda não se perde.
Não se pode ter um fim.
Pois sem limite é o vôo
Se com a alma livre eu estou.
Fazer valer eu vou
Se com a alma livre eu estou.

E se um dia meu Sol se pôr,
Não termino na escuridão.
Levo a luz de saber que
Nada que vivi foi em vão.

Quanto mais provo o mundo
Mais meu coração
Bate com força no peito.
Pros novos lugares que conheço,
Os amigos que nunca esqueço,
E os amores que fiz.
Memórias de uma vida louca...
Louca, louca, louca, louca...
E feliz.

Vida Chama

Após de um longo período de ausência, retorno para tirar daqui as teias de aranha. E só venho tirá-las do blog porque primeiro as tirei do meu processo criativo.

É que depois de muito tempo, enfim, criei algo inédito.

Os motivos pelos quais fiquei tanto tempo sem escrever algo novo são vários. Desde a dedicação quase que exclusiva ao trabalho, até a pura e simples falta de motivação.

Mas eis que voltei a ensaiar com uma banda e isso me empolgou a terminar uma letra que havia começado mutos anos atrás, e estava incabada desde então.

Dois amigos me ajudaram, indiretamente, a escrevê-la.

O primeiro, ainda no século passado, me mandou um texto bem maluco que tinha feito e que achava que podia ser musicado. Era psicodélico e um dos trechos dizia "pegue emprestado os ouvidos de um louco", Com o texto não consegui fazer nada, mas esse trecho foi um dos ingredientes para minha inspiração ao criar uma letra para uma música que tinha feito na época. Tanto que um dos versos diz: "escute o mundo com ouvidos insanos", que nada mais é do que uma adaptação do que meu amigo Ryan tinha escrito no seu texto amalucado. Por isso o considero um dos co-autores dessa letra.

Letra que ficou engavetada desde então. A música até foi terminada, mas a letra estacionou em duas estrofes de 4 versos cada.

Uns 4 anos atrás, quando eu tocava com uns amigos, pedi ao vocalista para colocar uma nova letra nessa música, já que eu não tinha ideias para terminar a minha. Ele inseriu algo que já tinha escrito, e que falava das crises de ciúme da namorada. Eu curtia, mas achava que o estilo da música pedia um tema mais profundo. Apesar disso, um verso me chamava atenção, quando ele falava dos exageros da namorada através da metáfora "faz furacão de um suspiro".

Quando a banda acabou a música voltou pra gaveta.

Até semana passada, quando resolvi terminar sua letra original. O problema era a ideia que faltava para começar a segunda parte. Eis que lembrei do tal verso do "furacão" feito pelo meu amigo Leandro para a namorada, e vi que ele se encaixava direitinho, apesar de assumir um outro contexto e sentido na minha versão. Por isso o considero também um co-autor do texto que segue abaixo.




VIDA CHAMA



Procure uma fuga
Escute o mundo com ouvidos insanos
Leve nos olhos o brilho profano da loucura
E siga sem culpa

Tenha desejos
Beba da vida, prove dos seus pecados
Leve na língua o gosto amargo de vivê-los
E siga sem medo.

Torne intenso tudo que a vida traz
Po-ten-cia-li-zan-do
Furacão que nasce de um suspiro
Brasa em chama que cresce e vira vulcão

(Vida chama)
Breve nota que vira canção
(Vida em chamas)
Oceano que surge de um pingo
(Vida chama)
Potencializando e sem temer
(Vida em chamas)

Sem temer os riscos

E siga sem grilo

Encontre uma curva
Um novo caminho, uma nova paisagem
Leve sua história além da margem do que se especula
E siga sem bula

Assuma o preço
Que se cobra fácil, que se cobra firme
Leve na alma as marcas que exprimem seus efeitos
E siga sem freio

Torne intenso tudo que a vida traz
Po-ten-cia-li-zan-do
Furacão que nasce de um suspiro
Breve chama que cresce e vira vulcão

Porque não basta ter um coração
É preciso fazê-lo sentir dentro no peito
A bater bem, a bater mal...
Transbordando em erupção
Todas as cores, odores e temperos
Que só uma existência plena pode proporcionar
Pra que assim se um dia,
ao cair das cortinas,
ao fechar das luzes
ao final do espetáculo tragicômico que encenas.
Tenha quem aplauda, tenha quem ofenda
Mas que nunca entre em pauta
A sensação de indiferença.


E siga com essência.

Cordel - A Chegada da TV no Ceará

Na minha primeira postagem nesse blog eu prometi não publicar aqui textos dos meus anúncios, mas acho que no caso a seguir vale a pena fazer uma exceção. Primeiro porque o texto em questão, a meu ver, tem um cunho muito mais artístico que publicitário. E segundo porque eu gosto muito, muito dele. Tanto que até o musiquei.

Bom, tudo começou quando eu estava na agência experimental da faculdade e nos chegou a responsabilidade de criar uma campanha para a Semana de Comunicação daquele ano, cujo tema era "45 anos da TV no Ceará". Conversando com o diretores de arte decidimos criar uma peça de caráter bem regional, e que tivesse um texto apropriado, em formato e conteúdo, que resumisse um pouco dessa história. Foi daí que surgiu meu primeiro e, até agora, único cordel.

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A CHEGADA DA TV NO CEARÁ


Algo totalmente novo.
Um assombro de invento.
Um avanço que no povo
Causou grande espantamento.
Como cabia o mundo todo
Dentro de tal equipamento?

O que antes só se ouvia
Agora se podia ver.
Imagem que se mexia.
Difícil até pra crer.
Era a mudança que trazia
A chegada da TV.

Se expandiram as fronteiras,
O alcance do olhar.
Até onde a vista chega
Não tem como limitar.
Se enxergando a Terra inteira
Sem sair do Ceará.

E de frente para a tela
Foi-se então passando o tempo.
A TV virou de casa.
Nossa cara, nosso jeito.
E se ela pode ser janela
Também nos serve de espelho.

Seja Qual For

Dificuldade a gente sabe, todo mundo tem.
Seja rico, seja pobre, um doutor ou um zé ninguém,
Pode ser quem for.
Todo mundo já provou ou provará da mesma dor.
Seja qual for.
Derrota é se trancar em casa a se lamentar.

Necessidade a gente sabe, todo mundo passa.
Seja preto ou branco pode ser de qualquer raça,
Qualquer fé.
Somos todos humanos, é assim que a gente é.
E a gente sente
No corpo, na alma, na mente e marca a vida.

Desesperado a gente sabe, todo mundo fica.
Seja cedo ou tarde ao menos uma vez, querida,
A casa cai.
A saída é andar pra frente sem lamentar o que há pra trás.
E por onde for
Buscar por todo canto um grande amor e viver em paz.